O Papel da Nutrição na Prevenção e Combate ao COVID-19

Os mitos em torno da nutrição no contexto da proteção e tratamento da COVID-19 têm sido disseminados amplamente, gerando dúvidas sobre a real influência da alimentação nessa batalha. Embora não exista uma dieta milagrosa que impeça completamente a infecção, é inegável que escolhas alimentares podem desempenhar um papel crucial na minimização dos riscos. Indivíduos com dietas geralmente mais saudáveis parecem enfrentar cursos menos graves da doença, mas esse benefício parece ser indireto, relacionado a taxas mais baixas de obesidade e condições médicas preexistentes. Logo, surge a pergunta: existe alguma dieta com efeitos diretos no curso da doença ou na suscetibilidade à infecção?

O Poder das Dietas Baseadas em Plantas

Dietas baseadas em vegetais têm demonstrado reduzir o risco de outras infecções respiratórias. Durante a pandemia de 1918, seminários baseados em plantas parecem ter escapado relativamente ilesos. Mas por que uma dieta assim seria benéfica? Os nitratos vegetais, presentes em vegetais folhosos verdes escuros, podem ser convertidos em óxido nítrico, parte da primeira linha de defesa dos pulmões contra infecções. Fitonutrientes polifenólicos em plantas podem inibir diretamente infecções virais.

Além disso, há benefícios para o microbioma, desempenhando papel crucial na função imunológica sistêmica. Enquanto alimentos ricos em fibras facilitam uma relação simbiótica com nossas bactérias intestinais, alimentos processados e de origem animal podem ter o efeito oposto e serem prejudiciais.

Fibras e Inflamação

A fibra, encontrada em abundância em alimentos integrais de origem vegetal, é o componente alimentar anti-inflamatório mais importante. Em contrapartida, a gordura saturada, presente em carne, laticínios e alimentos processados, é o componente alimentar mais pró-inflamatório. Não surpreendentemente, aqueles que consomem dietas pró-inflamatórias enfrentam um maior risco de curso grave da COVID-19 e de contrair a doença em primeiro lugar, até doze vezes mais de chances, mesmo considerando peso, diabetes e pressão arterial. Mas, e em estudos com maior amostragem, como os envolvendo 11.000 pacientes com COVID-19?

De fato, a inflamação relacionada à dieta aumentou o risco de contrair a infecção por COVID-19, sofrer um curso grave e morrer pela doença. Essa associação pode explicar as taxas de mortalidade significativamente mais baixas na África. E quanto à capacidade de dietas baseadas em plantas mitigarem a COVID-19? Estudos indicam que sim.

Evidências Sólidas e Associações Positivas

Em uma análise sobre a gravidade da COVID-19 em idosos, aqueles em dietas vegetarianas tinham até 20 vezes menos chances de sofrer um curso criticamente grave. Em um estudo mais amplo, profissionais de saúde que seguiam dietas baseadas em plantas tinham 73% menos chances de enfrentar um curso moderado ou grave de COVID-19, mesmo quando combinados com pescetarianos. A diferença mais marcante estava entre dietas baseadas em plantas e aquelas com baixo teor de carboidratos. Comparados a profissionais de saúde em dietas baseadas em plantas, os que seguiam dietas com baixo teor de carboidratos tinham quase quatro vezes mais chances de sofrer uma infecção grave.

Com efeito, essa proteção baseada em plantas vai além dos fatores de risco tradicionais. Uma dieta rica em alimentos densos em nutrientes pode ser considerada uma defesa eficaz contra a COVID-19 grave. Leguminosas e grãos, principais fontes de fibras alimentares, estão associados a sintomas menos graves. O risco reduzido persiste independentemente de condições pré-existentes.

Em resumo, evidências sólidas indicam que dietas baseadas em plantas reduzem diretamente o risco de sintomas graves da COVID-19 e de infecção, independentemente de outros fatores de saúde. Uma abordagem mais mediterrânea pode reduzir o risco de infecção em 22%, enquanto uma dieta ainda mais baseada em plantas pode reduzir pela metade o risco de infecção.

Logo, para enfrentar os efeitos da COVID-19, uma dieta baseada em plantas é sugerida devido às associações positivas com a melhoria da função imunológica, equilíbrio de neurotransmissores, redução de dor e inflamação, melhoria do sono e saúde mental. A promoção em larga escala dessa abordagem alimentar pode ter o potencial de melhorar os impactos físicos e mentais. Embora mais estudos ainda sejam necessários, adotar uma dieta baseada em plantas não só pode salvar vidas agora, mas também moldar um futuro com menos doenças e envelhecimento tardio.

Uma Escolha para o Futuro

A escolha é clara: adotar uma dieta baseada em plantas não apenas se revela uma medida de segurança diante dos desafios presentes, mas também emerge como um passo crucial na construção de um futuro mais saudável, resistente e sustentável. Ao priorizar alimentos vegetais, não apenas fortalecemos nossos sistemas imunológicos contra ameaças como a COVID-19, mas também contribuímos para a redução de problemas de saúde crônicos associados a dietas menos equilibradas.

Além disso, a escolha por uma dieta centrada em vegetais alinha-se com princípios de sustentabilidade, mitigando impactos ambientais adversos e fomentando práticas alimentares que promovem a saúde do planeta e de seus habitantes. Portanto, ao fazer essa escolha consciente, não apenas investimos em nosso bem-estar individual, mas também moldamos um futuro onde a saúde humana e a saúde do meio ambiente caminham de mãos dadas.

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Referências:

https://nutritionfacts.org/video/the-best-diet-for-covid-and-long-covid/

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